terça-feira, 9 de agosto de 2016

Um conto de fadas para fazer sonhar e emocionar...

A FONTE DA SORTE 
Do livro "Os contos de Belle, o bardo
No alto de um morro, em um jardim encantado envolto por muros altos e protegido por poderosa magia, jorrava a Fonte da Sorte.
Uma vez por ano, entre o nascer e o pôr do sol, do dia mais longo do ano, um único infeliz recebia a oportunidade de competir para chegar à fonte, banhar-se em suas águas e ter sorte a vida inteira.
No dia aprazado, centenas de pessoas viajavam de todo Reino, para chegar ao Jardim antes do alvorecer. Homens e mulheres, ricos e pobres, jovens e velhos, dotados ou não de poderes mágicos reuniam-se no escuro, cada qual com a esperança de ser o escolhido para entrar no Jardim.

 Três bruxas, com seus poderes e preocupações, encontraram-se nas cercanias da multidão e contaram umas às outras suas tristezas enquanto esperavam o sol nascer.







A primeira, cujo nome era Asha, sofria de uma doença que nenhum curandeiro conseguia eliminar. Ela esperava que a fonte fizesse desaparecer os seus sintomas e lhe concedesse uma vida longa e feliz.












A segunda, cujo nome era Asthelda, tivera sua casa, seu ouro e sua varinha roubados por um bruxo malvado. Ela esperava que a Fonte a livrasse de sua fraqueza e pobreza.













A terceira, cujo nome era Amata, fora abandonada por um homem a quem amava profundamente e acreditava que seu coração partido jamais se recuperaria. Esperava que a Fonte aliviasse sua dor e saudade.







Apiedando-se umas das outras, as três mulheres concordaram que, se lhes coubesse a chance, elas se uniriam e tentariam chegar à Fonte juntas.

O primeiro raio de sol rasgou o céu e uma  fresta se abriu no muro. A multidão avançou, cada pessoa exigindo, aos gritos, a benção da fonte. Plantas rastejantes, vindas do interior do jardim, serpentearam pela massa ansiosa e se enrolaram na primeira bruxa, Asha. Ela agarrou o pulso da segunda bruxa, Altheda, que segurou com força as vestes da terceira bruxa, Amata.
E Amata se enredou na armadura de um cavaleiro de triste figura que montava um cavalo esquelético.
As plantas rastejantes puxaram as três bruxas pela fresta do muro e o cavaleiro foi derrubado do seu ginete atrás delas.

Os gritos furiosos da multidão desapontada se ergueram no ar matinal, e silenciaram quando os muros do jardim se fecharam mais uma vez.

Asha e Altheda se zangaram com Amata, que, acidentalmente, trouxera junto o cavaleiro.
- Apenas um pode se banhar na fonte! Já será bem difícil decidir qual de nós será ,sem adicionar mais um!

Ora, o cavaleiro azarado, como era conhecido nas terras além-muro, observou que as mulheres eram bruxas e, não sendo ele dotado de magia, nem de grande perícia em torneios e duelos com espadas, nem de qualquer outra coisa que o distinguisse de um homem não mágico, ficou convencido de que não havia esperança de chegar à fonte antes das três mulheres. Anunciou, portanto, a sua intenção de sair do jardim.
Ao ouvir isso, Amata se aborreceu também:
- Medroso! Ela o censurou - Desembainhe sua espada, Cavaleiro, e nos ajude a atingir a nossa meta!

E, assim, as três bruxas e o infeliz cavaleiro, se aventuraram  pelo jardim encantado onde ervas raras, frutos e flores cresciam em abundância às margens de caminhos ensolarados.Eles não encontraram obstáculo algum até alcançar o sopé do morro onde se erguia a fonte.
Ali, enrolado, na base do morro,havia um monstruoso verme branco inchado e cego. À aproximação do grupo, ele virou uma cara feia e mal cheirosa e proferiu:

"Paguem-me a prova de suas dores"

O cavaleiro azarado sacou a espada e tentou matar o bicho, mas a espada se partiu. Então Altheda atirou pedras no verme, enquanto Asha e Amata tentaram todos os feitiços que poderiam subjugá-lo ou hipnotizá-lo, mas o poder de suas varinhas não foi mais eficaz do que as pedras da amiga ou  a espada do cavaleiro: o verme não quis deixá-los passar.
O sol foi subindo cada vez mais alto no céu e Asha, desesperada, começou a chorar.
Então o enorme verme encostou seu focinho no rosto dela e bebeu suas lágrimas. Saciada a sede, o verme deslizou para um lado e sumiu por um buraco no chão.
Exultantes com o sumiço do verme, as três bruxas e o cavaleiro começaram a subir o morro, certos de que chegariam à fonte antes do meio dia.
A meio caminho da subida íngreme, porém, eles encontraram palavras gravadas no chão:

"Paguem-me os frutos do seu árduo trabalho"

O Cavaleiro Azarado apanhou sua única moeda e colocou-a na encosta relvada, mas ela rolou para longe e se perdeu. As três bruxas e o Cavaleiro continuaram a subir, e, embora, tivessem andado durante horas, não avançaram um único passo; o topo continuava distante  e a inscrição permanecia no chão diante deles.
Todos se sentiram desanimados quando viram o sol passar sobre suas cabeças e começar a declinar sobre o longínquo horizonte, mas Altheda andou mais rápido e, empenhando mais esforço mais esforço que os demais, os estimulava-os a seguir seu exemplo, embora tampouco avançasse  na subida do morro encantado.
- Coragem, amigos, não fraquejem! Gritava ela, enxugando o suor do rosto.
À medida que as gotas caíam, cintilantes na terra, a inscrição que bloqueava o caminho desaparecia, e eles descobriram que podiam prosseguir.
Encantados com a remoção do segundo obstáculo, correram para o alto o mais rápido que puderam, até que,por fim, avistaram a fonte refulgindo cristalina em meio à arvores e flores.
Antes de alcançá-la,no entanto, encontraram barrando o seu caminho um riacho que circundava o topo do morro. No fundo da água transparente havia uma pedra lisa com as seguintes palavras:

"Paguem-me o tesouro do seu passado"

O Cavaleiro Azarado tentou atravessar o curso d´agua flutuando sobre seu escudo, mas afundou. As três bruxas o tiraram de dentro do riacho e tentaram saltar por cima da água,mas o riacho não as deixou atravessar, e todo o tempo o sol ia baixando pelo céu.
Eles começaram, então, a refletir sobre o significado da mensagem na pedra, e Amata foi a primeira a compreendê-la. Apanhando a varinha, apagou da mente todas as lembranças dos momentos felizes que passara com seu amor desaparecido e deixou-as cair na correnteza. O riacho as levou para longe, deixando aparecer pedras planas e, finalmente, as três bruxas e o cavaleiro puderam atravessar em direção ao topo do morro.


A fonte refulgiu diante dos quatro, emolduradas pelas ervas e flores mais raras e belas que jamais tinham visto.O céu coloriu-se de vermelho e chegou a hora de decidir qual deles iria se banhar.

Antes porém, que chegassem à uma conclusão, a franzina Asha tombou no chão, Exausta com o esforço da subida estava à beira da morte.
Seus três amigos a teriam carregado até a fonte, mas Asha, em agonia mortal, pediu que  não a tocassem.

Então, Altheda se apressou a colher as ervas que julgou mais úteis,misturou-as na cabaça de água do Cavaleiro Azarado e levou a poção à boca de Asha.
Na mesma hora, Asha conseguiu se pôr de pé. Além disso, todos os sintomas de sua terrível enfermidade tinham desaparecido.
- Estou curada! - exclamou ela. - Não preciso da fonte. Deixem Altheda se banhar!
Altheda, porém, estava ocupada colhendo mais ervas em seu avental.
- Se fui capaz de curar essa doença, posso ganhar muito ouro! Deixem Amata se banhar!
O Cavaleiro Azarado se inclinou e, com um gesto indicou a fonte à Amata, mas ela sacudiu a cabeça.  O riacho tinha lavado todos os seus desapontamentos de amor, e ela percebia agora que o antigo amado fora insensível e infiel e que era uma grande felicidade ter se livrado dele.
- Bom cavaleiro, o senhor deve se banhar em recompensa por toda sua nobreza! - disse ela ao Cavaleiro Azarado.
Então ele avançou a armadura tinindo aos últimos raios do sol poente e se banhou na Fonte da Sorte, admirado por ter sido o escolhido entre centenas de outros e atordoado com sua inacreditável fortuna.

Quando o sol se pôs no horizonte, o Cavaleiro Azarado se ergueu das águas sentindo-se glorioso com seu triunfo, e se atirou, ainda vestindo a sua armadura enferrujada, aos pés de Amata, a mulher mais bondosa e bela que já contemplara. E alvoroçado com o sucesso pediu sua mão e seu coração, e Amata, não menos feliz, percebeu que encontrara um homem que merecia os dois.


As três bruxas e o cavaleiro desceram o morro juntos, de braços dados, e os quatro levaram vidas longas e venturosas, sem jamais saber, nem suspeitar que as águas da fonte não possuíam encanto algum...



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